terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

HISTORICO SOBRE O DESFILE CIVICO NO BRASIL


Para discutirmos o sentido do Desfile Cívico de 7 de setembro precisamos realizar uma contextualização histórica em relação aos usos e significados que foram sendo atribuidos a este evento, bem como contextualizá-lo em relação a quatro conceitos os quais, embora muito semelhantes quanto ao seu uso na linguagem cotidiana, guardam especificidades, e que são NACIONALISMO, PATRIOTISMO, CIVISMO e CIDADANIA.

Comemorações do 7 de setembro aconteciam, de maneira relativamente informal e espontânea, desde a proclamação da República (1889) e originalmente havia apenas um Desfile Militar nas capitais, até porque os primeiros governos republicanos não haviam definido se a grande data nacional seria esta, o 15 de novembro, data da Proclamação da República ou o 21 de abril, dia de Tiradentes.

Foi no primeiro governo de Getúlio Vargas que os estudantes e algumas agremiações e Sindicatos foram agregados ao Desfile.

A “era Vargas”, muito embora possa ser dividida em 3 partes (governo ditatorial, de 1930-1934, governo democrático, 1934-1937 e Estado Novo, 1937-1945), no seu conjunto significa um momento de afirmação do NACIONALISMO, o qual encontrava-se exacerbado na época, em nível global.

Na essência, o nacionalismo é uma ideia, surgida após a Revolução Francesa (1789) sendo que em sentido estrito, seria um sentimento de valorização marcado pela aproximação e identificação com uma nação.

O conceito de Nação, por sua vez, traz consigo valores positivos como a língua e a cultura, o sentimento Nacional, a defesa do território, mas, a exacerbação do nacionalismo, leva à xenofobia (ódio aos estrangeiros) e até a perseguição das “minorias” (pois não compactuariam dos “valores e sentimentos nacionais” da maioria) como aconteceu no nazismo e no fascismo.

O Dia da Pátria, 7 de setembro, só foi tornado feriado Nacional através da Lei 662, de 6 de abril de 1949, quando o Presidente do Brasil era o General Eurico Gaspar Dutra.

Nesta época, notadamente na década seguinte (que foi a época do desenvolvimentismo, da Construção de Brasília, que elevou a autoestima dos brasileiros e da Bossa Nova, que nos projetou internacionalmente), a ideia de NACIONALISMO foi gradativamente sendo suplantada pela ideia de PATRIOTISMO: sentimento de orgulho, amor e devoção à pátria e aos seus símbolos, bem como o amor dos que querem servir ao seu país e ser solidários para com os seus compatriotas.

No intervalo 1949-1964 tivemos desfiles apoteóticos, que agregaram e congraçaram civis e militares, instituições laicas e religiosas, trabalhadores, crianças, jovens e movimento organizado dos Estudantes.

Após 1964, a ideia predominante em relação ao Desfile passou a ser o CIVISMO, entendido enquanto valores e práticas de normatização e harmonização, defesa das instituições e deveres para com a Pátria. Decorrente desta mudança de paradigma, o Desfile perdeu o caráter festivo e foi estabelecido o protocolo para as comemorações deste dia, através da Lei 5.571 de 28 de novembro de 1969, governo da junta governativa provisória de 1969 (generais Aurélio de Lira Tavares, Augusto Rademaker e Márcio de Sousa Melo).

Após a grande movimentação pelas “Diretas Já” em 1984, o movimento dos “caras-pintadas” pelo impeachment de Fernando Collor de Mello (1992), as várias marchas, paradas e mais recentemente as grandes manifestações de rua (junho e julho de 2013) o sentido do desfile converge cada vez mais, em nosso entendimento, para o conceito de CIDADANIA, já que estamos falando de cidadãos empoderados da sua cidade, do seu território, sendo que, segundo Milton Santos, o maior geógrafo brasileiro, o território é o “espaço humanizado”.